terça-feira, 13 de março de 2012

Entrevista: Marize Porto, uma aula de integração Lavoura-Pecuária-Floresta

Em 2005, a professora universitária Marize Porto teve a iniciativa de implantar em sua propriedade um projeto de produção sustentável. A idéia era recuperar a grande parcela de áreas degradadas que existia na época. Procurou a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que enviou pesquisadores à sua fazenda e eles recomendaram a implantação do sistema de integração Lavoura-Pecuária (iLP). A área ganhou vários pés de eucalipto e a técnica passou a ser chamada de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF).

Seis anos depois, ela revela com orgulho os resultados alcançados. Ela conta como fez a recuperação de quase 100% da área que era degradada, além da recomposição de árvores e vegetação nativa. Os frutos colhidos fizeram com que a fazenda Santa Brígida, no município de Ipameri, a 280 quilômetros de Brasília, se tornasse exemplo em sustentabilidade na atividade rural. Para aprimorar ainda mais os resultados, ela é uma das produtoras que buscou o financiamento do programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC), lançado pelo governo federal em 2010 para investir ainda mais na adoção de práticas sustentáveis.

Além da iLP, iLPF e recuperação de pastagens degradadas, os recursos do programa ABC também podem beneficiar outras técnicas, como o Sistema Plantio Direto (SPD), a Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) e o tratamento de dejetos naturais, entre outros. Para mostrar as técnicas implantadas em sua propriedade e apresentar o programa ABC, ela promoveu no último dia 10 de março, juntamente com a Embrapa, a sexta edição do Dia de Campo. O evento reuniu produtores rurais, técnicos, engenheiros agrônomos e estudantes universitários para difundir e estimular a adoção destas e outras práticas voltadas para a redução da emissão de carbono e outros Gases de Efeito Estufa (GEEs).

Na corrida agenda que teve durante o evento, ela encontrou tempo e gentilmente concedeu uma rápida entrevista para este blog.

BLOG: O que levou a senhora a aderir a este sistema de integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF)?
Marize Porto: Tudo começou em função da quantidade de solos degradados que tinha na fazenda. Procurei a Embrapa para saber como podíamos fazer essa recuperação de forma mais rentável, mais inteligente e mais sustentável. E a proposta da Embrapa foi de instalar o sistema de iLP (integração Lavoura-Pecuária) inicialmente. Três anos depois, demos início à instalação da floresta. Então nós temos florestas aqui de três anos, de dois anos e de um ano. Cada ano nós plantamos para aumentar gradativamente a floresta pela propriedade.

BLOG: Quais os resultados já alcançados com esse sistema?
Marize Porto: Os resultados foram muito bons. Primeiro, a recuperação das pastagens. A fazenda hoje está totalmente recuperada dentro desse sistema. E é um sistema muito interessante porque é economicamente viável. Se não render, ninguém vai entrar. Tem que dar lucro, ou seja, te devolver dinheiro para entrar no processo. Segundo, socialmente e ambientalmente é um projeto viável. Você só não destrói o meio ambiente como você recupera o meio ambiente. Não recupera só o pasto degradado, mas também recompõe as árvores, as florestas, consegue colocar uma quantidade muito maior de animais em um espaço menor. Além disso, você coloca o boi no pasto recuperado, com sombra, conforto, e aí você põe mais animais em uma área menor. Então você ganha duas vezes.

BLOG: O que você diria para quem pensa em adotar esse tipo de prática sustentável na propriedade?
Marize Porto: A primeira coisa que tem que acontecer é uma quebra de paradigma. As pessoas estão acostumadas ou a tocar lavoura, ou a tocar pecuária, ou a fazer floresta. Então, quem é da agricultura tem que começar a aceitar que o boi vai passar naquela área, vai fazer o pisoteio, porque eles acham que vai estragar a área. Tem que começar a entender como o animal funciona, do que ele precisa, como ele se desloca, como maneja pasto, essa coisa toda. Quem é da pecuária já tem uma dificuldade grande de comprar máquinas, de manejá-las para a agricultura, pulverizações. Então a primeira coisa é quebrar esses paradigmas, aceitar o novo. O negócio é não ter medo e se jogar porque há uma tecnologia testada, eficiente, não tem problemas com a tecnologia. O que se precisa é de uma equipe de trabalho qualificada e adaptada a essa nova realidade.

Acompanhe mais notícias no Blog: http://agriculturabaixocarbono.wordpress.com/
Publicado em: 12/03/2012

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